MIA LUDOVICA

.à propos de mia.

artista visual, flâneur, pesquisadora nas áreas de antropologia e imagem, cinema e educação,amante da fotografia e seus processos alternativos de impressão.                 

Cozinheira de mão cheia participa do conselho editorial e de curadoria.

    ::Além de dar aquela pitadinha extra de experimentalismo::

michelleludvichak@gmail.com





.:Cianotipia:.            

.gloriosa técnica de copiagem.                                                     







.:FotoGrafismos capturados & impressos por                                        mia ludovica:.

                                                                                                                         

.:Sobre os estudos com cianotipia.:




Foi criado em 1842 pelo astrônomo Sir John Herschel, interessado na reprodução de seus desenhos e notas. Herschel fez muitas contribuições às pesquisas fotográficas. Além de nomear as 7 luas de Saturno e as 4 luas de Urano. Essa experimentação tornou-se uma alternativa mais barata e acessível de impressão. O cianótipo tem em sua composição sais de ferro o que confere um tom azulado, conhecido como azul da prússia. A cianotipia é uma prática na qual a emulsão fotossensível e a manipulação dos mais variados papéis são feitas pelo próprio fotógrafo.O experimentador desse feitio tem mais liberdade pois detém o conhecimento do processo como um todo.Possibilitando assim uma relação mais orgânica com sua gravura. Cada pincelada, arranhão imprime também um pouco do criador.O resgate dessa técnica é um convite as experimentações.  É um instrumento que permite o entrecruzamento de imagens e diversas formas de intervir na manipulação do processo. Cada cópia é unica.O primeiro livro de fotografias que se tem registro foi criado utilizando cianótipo.Anna Atkins, botânica inglêsa foi a primeira pessoa a perceber o potencial da fotografia em trabalhos científicos.Em 1843, utilizando o recém descoberto processo da cianotipia, publicou Photographs of British Algae: Cyanotype Impressions.








O livro contém inúmeras imagens de algas marinhas, impressas em cianótipo através de um "fotograma", onde a alga era posicionada diretamente no papel emulsionado. A impressão se dá por contato e é levada à exposição ao sol.
Outra curiosidade sobre a descoberta do cianótipo: ele popularizou o uso do pigmento azul da prússia. Pigmento esse que originalmente era obtido a partir da pedra lápis lazuli. O que tornava mais oneroso seu uso. Depois da sintetização desse pigmento seu uso popularizou-se e foi incorporado na moda e nas artes.Mostrando as possibilidades estéticas do novo meio. 



Cineclube das Artes 2ªedição




No Cineclube das Artes, em meio a exposições de quadros e fotos, video instalações e muitos curtas metragens, a editora Cozinha Experimental esteve presente com seu estande de cadernos e publicações e com a a exposição de duas fotografias minhas. O evento foi muito bom, com grande público perambulando pela casa e assistindo curtas metragens de produção independente.





 O quadro e a camiseta desta foto são de Felipe Fly


 


Essas fotografias foram escolhidas a partir de um ensaio que tive a bela oportunidade de realizar. Nasceu de um encontro, no caso com seu Orlando, mestre sapateiro que trabalha até hoje em sua pequena oficina, que a muito tempo atrás era uma fábrica de calçados femininos.Durante o processo de criação contei com o apoio de Simone Rodrigues, que durante seu curso de concepção oferecido pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, me orientou e foi grande fonte de inspiração e incentivo.


.:22ªEdição Artes de portas abertas:.



Inaugura nesta quinta-feira, dia 05/07, a partir das 19h, no Centro Cultural Parque das Ruinas, a MOSTRA LAB CLUBE, uma projeção de cianótipos produzidos pelos participantes da primeira e segunda oficinas de Processos Experimentais, realizada pelo LAB CLUBE - núcleo de fotografia experimental do Coletivo Filé de Peixe. A MOSTRA ficará em cartaz durante 4 finais de semana, no Centro Cultural Parque das Ruinas, integrando a programação da 22ª Edição do Artes de Portas Abertas, em Santa Teresa.

Aglutinando artistas, fotógrafos, pesquisadores e teóricos em torno de um laboratório fotográfico mantido pelo coletivo em seu espaço/ateliê PEIXADA ARTE CONTEMPORÂNEA (PAC), o LAB CLUBE do Filé promove oficinas, palestras e análises de trabalhos, refletindo sobre a pertinência e relevância do uso de meios fotográficos experimentais em interseção com a arte contemporânea, estimulando o desenvolvimento de trabalhos e poéticas individuais e coletivas, viabilizando mostras, projetos expositivos e publicações periódicas.

Participantes: Alex Topini, Alice Kasznar, Amanda Flou, Fabrício Cavalcanti, Fernanda Antoun, Marco de Barros, Marianna Soares, Mia Ludovica, Natali Nabekura, Paula Botta, Pedro Cupertino, Renato Rocha Miranda, Tati Almeida, Jose Antunes

Local: Centro Cultural Muncipal Parque das Ruínas. Rua Murtinho Nobre,169. Próximo ao Largo do Curvelo.

Coquetel de abertura das 19h às 21h.

Venham! Venham!



.:Mostra LAB CLUBE:.


Inaugurou nesta última quinta-feira, dia 05/07,                   MOSTRA LAB CLUBE





A MOSTRA ficará em cartaz durante 4 finais de semana, no Centro Cultural Parque das Ruínas, integrando a programação da 22ª Edição do Artes de Portas Abertas, em Santa Teresa. 



Estive na abertura, um lugar de troca de afetos, idéias e inspirações. Trouxe um pouco do que rolou na projeção de cianótipos.







Participantes: Alex Topini, Alice Kasznar, Amanda Flou, Fabrício Cavalcanti, Fernanda Antoun, Marco de Barros, Marianna Soares, Mia Ludovica, Natali Nabekura, Paula Botta, Pedro Cupertino, Renato Rocha Miranda, Tati Almeida, Jose Antunes.



:.experiência 02 com cianotipia.:



Depois da experiência primeira com a moçada do LABCLUBE fiz algumas tentativas caseiras.
A chegada desta técnica fez possível o surgimento de outras imagens, ruidosas e imersas nas mais variadas texturizações e interferências.










.:ludovica encontra robert:.



Robert Cornelius self portrait, 1839. 

.the first light picture ever taken.
  


Hoje durante meu garimpo virtual esta fotografia veio de encontro a mim.
Robert era um estudioso em química e metalurgia e decidiu se juntar aos negócios da família , especializando-se em revestimento de prata e polimento de metal.
Logo foi procurado por Saxton que tinha grande interesse em fazer uma placa para seu daguerreótipo.
O mais foda é a pose dele, de braços cruzados e seus cabelos desgrenhados...Rebeldia pura. Desafiando com seu olhar os parâmetros estéticos de sua época.
  



.:Uma AlegoriA:.

"A primavera às flores de pêssego espalha-se
 Em todo pátio à lua cintilam os salgueiros
 Cá, em cima estou, no quarto, perfeita a  maquiagem
 recém vestida, à espera da noite, o silêncio
 Ao lago sob as flores de lótus os peixes
 Em volta do arco-íris revoam pardais
 Tudo nessa vida é sonho, alegria ou pena
 vêm-nos aos pares; possa eu por fim acordar"
Yu Xuanji,
Monja-poetisa taoista e cortesã chinesa da antiga Dinastia Tang . 618-905d.C .
Este é um dos 48 poemas que permaneceram até os dias de hoje


:: Experimento 01 com xilogravura ::





















" Da cássia, um galho ergue-se à lua,encontra a névoa
Vermelho à chuva: ao rio,mil pessegueiros brotam
À frente, ofertam vinho; aceita, enche teu copo:
são alegrias e dor unidas pelos séculos"


Yu Xuanji,
Monja-poetisa taoista e cortesã chinesa da antiga Dinastia Tang .618-905d.C.
.:Este é um dos fragmentos dos 48 poemas que permaneceram até os dias de hoje:.

Poesia completa de Yu Xuanji, publicado pela editora unesp com a tradução de Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao.







:. Cianotipando.:

Experiência 03




.As cidades também Morrem.
.Das Luzes todas.
.Só restaram os Postes.




chercher un autre à l'intérieur de moi

"No café da manhã, minhas certezas servem-se de dúvidas. E têm dias em que me sinto estrangeiro em Montevidéu e em qualquer outra parte. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem àquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu próprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não quero estar com ninguém, nem mesmo comigo, e não tenho, nem quero ter, nome algum: então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado." E. Galeano





"Mostrar o que não está é uma forma de conseguir ver?"






Joaquim Manuel Magalhães, A poeira levada pelo vento (1993)


   
.Experimento com o corpo em movimentos atravessados pela luz, através do tempo.
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Bright,
bright
day

  .Tarkovsky book.


PHOTOGRAPHY, 1957

A fine wind blows into the heart,
And you fly headlong on,
While love within the roll of film
Holds the soul fast by its sleeve.

Bird-like she steals grain by grain
From oblivion – and now?
She does not let you fall to dust,
Even dead you’re still alive –

Not wholly but a hundredth part,
In muted tone or sunk in sleep,
As if you wandered through some field
In a land beyond our ken.

All that’s dear and seen and living
Makes the same flight as before,
Once the angel of the lens
Has your world beneath his wing.
Arseniy Tarkovsky



.:. Pequenos Poemas Em Prosa.:.                                                                                 

XXXV

          .:As Janelas:.

Aquêle que olha,da rua, através de uma janela aberta, jamais vê tantas coisas como quem olha para uma janela fechada. Não existe nada mais profundo, mais misterioso, mais fecundo, mais tenebroso, mais deslumbrante, que uma janela iluminada por uma lamparina. O que se pode ver ao sol nunca é tão interessante como o que acontece por trás de uma vidraça. Naquele cantinho negro ou luminoso a vida palpita, a vida sonha, a vida sofre.                     Para além das ondas de telhados, diviso uma mulher mais madura, enrugada, pobre, sempre debruçada sôbre alguma coisa, e que nunca sai de casa. Pela sua fisionomia, pelas suas vestes, por um gesto seu, por um quase-nada, reconstituí a história dessa mulher, ou antes, sua lenda, que às vezes conto a mim próprio, a chorar. Se fosse um pobre velho, eu lhe teria reconstituído a história com a mesma facilidade. E vou deitar-me, orgulhoso de ter vivido e sofrido em outras criaturas. Haveis de perguntar-me, agora: - "Estás certo de que esta lenda seja a verdadeira?" Que importa o que venha a ser a realidade colocada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir o que sou, e o que sou?                                                                                   
Charles Baudelaire
Coleção Rubáiyát
Tradução de Aurélio Buarque de Hollanda






"Para lembrar é preciso esquecer."

Maurice Blanchot.


A partir de algumas reflexões sobre o esquecimento surgiram estas colagens digitais que apresento.Provindas de memórias rasgadas e inseridas em outros não lugares, desejo criar novas possibilidades para que essas imagens ressurjam.








Sobre o processo de construção das colagens digitais
Utilizei algumas fotografias de fundo minhas e do acervo do Sr.Barateza com a sobreposição de negativos antigos garimpados na feira das pulgas na Glória. Após escanear as imagens fiz um tratamento simples,positivando os negativos e experimentando os diferentes tipos de exposição na foto.
Escrevendo com a luz. 


                           et j'oublie, j'oublie...

Buscando em meio aos meus achados estes negativos vieram a tona. Lembranças partidas querem contar algo, há muito perdido. E que não se revelam ao primeiro golpe de vista. Os negativos estão se desfazendo. Sua matriz não perdurará. Esses pequenos flagrantes, suspensos no tempo-espaço não ficarão para eternidade. Essa atual necessidade compulsiva de capturar todo e qualquer instante para poder arquivá-los digitalmente para posterioridade aponta para uma ansiedade e medo do esquecimento.  
O esquecimento abre espaço para outros olhares. Outras histórias.










.:A quem interessar possa:.


Depois de muito garimpar pelos sebos e brechós tirei a sorte grande ao encontrar um negativo de vidro. Estes predominaram as técnicas de revelação na segunda metade do século XIX.
Expus o negativo a luz e fotografei circulando livremente pela imagem.
O resultado dessa experiência trouxe à tona esses fractais.

O aparato fotográfico é um invento capaz de registrar o que está desaparecendo.













Ensaios sobre a fotografia Susan Sontag

.Alguns trechos escolhidos.



“A fotografia não é só pseudopresença, mas também símbolo da ausência.
A foto, que brinca com a escala do mundo, pode ser reduzida, ampliada,cortada, retocada, consertada e distorcida. Envelhece ao ser infestada pelas doenças comuns aos objetos feitos de papel; desaparece, valoriza-se, é comprada e vendida; é reproduzida. A foto é um objeto frágil que rasga e se perde facilmente.
A foto é sobretudo rito social, defesa contra a ansiedade e instrumento de poder.
A máquina fotográfica acompanha a vida familiar.
A partir da foto, cada família constrói uma crônica – relato de si mesma – uma coleção portátil de imagens que testemunha sua coesão.
Como um rastro fantasmagórico, a foto nos traz à lembrança a presença simbólica da família dispersa. Um álbum de família inclui geralmente fotos de toda uma família e, muitas vezes, é tudo que dela nos resta.
A foto, ao mesmo tempo em que nos atribui a posse imaginária de um passado irreal, ajuda-nos também a dominar um espaço no qual nos sentimos inseguros.
Vivemos, no momento, uma época  de nostalgia, e a foto promove intensamente a nostalgia.
Tomar uma foto é como participar da mortalidade, vulnerabilidade e mutabilidade de uma pessoa ou objeto. Toda foto testemunha a dissolução inexorável do tempo."

.:alice:.


“Essas pessoas que renascem nas fotografias de modo tão intenso que parece que as imagens delas foram capturadas nas velhas chapas secas de 60 anos atrás. Caminho pelas alamedas, permaneço em seus quartos, barracos e oficinas, olhando sem parar pelas janelas. E aquela gente parece,por sua vez,ter consciência da minha presença.”

Ansel Adams




Um álbum de família

Em mais um de meus passeios noturnos pelas ruas da Lapa me deparo com um grande amontoado de fotografias antigas. Ali jogadas no chão ao relento! Recolhi as fotos e pude notar que eram retratos de família.
Busquei encontrar algumas pistas nas fotos, como datas,fotógrafos, nomes enfim após essa pequena pesquisa descobri muito pouco.
Apresento a menina Alice. Nesses pequenos frames poderemos acompanhar parte de seu crescimento junto a familiares e amigos.
Pelas datas que consegui apurar, Alice foi registrada ao longo de aproximadamente 15 anos. Sua infância foi registrada a partir de 1938 e percorremos através desses fractais até 1955.
Nesse breves recortes, a menina Alice vive suas fantasias, suas feições mudam, seus pais envelhecem e suas imagens desvanecem.
   
                     >>Em breve será lançado o zine com o acervo recolhido na íntegra<< 









.:Madrigal Triste:.

 

Que me importa que saibas tanto?
Sê bela e taciturna! As dores
À face emprestam certo encanto,
Como à campina o rio em pranto;
A tempestade apraz às flores.
Eu te amo mais quando a alegria
Te foge ao rosto acabrunhado;
Quando a alma tens em agonia,
Quando o presente em ti desfia
A hedionda nuvem do passado.
Eu te amo quando em teu olhar
O pranto escorre como sangue;
Ou quando, a mão a te embalar,
A tua angústia ouço aflorar
Como um espasmo quase exangue.
Aspiro, volúpia divina,
Hino profundo e delicioso!
A dor que o teu seio lancina
E que, quando o olhar te ilumina,
Teu coração enche de gozo!
Sei que o peito, que palpita
À sombra de amores passados,
Qual uma forja ainda crepita,
E que a garganta enfim te habita
Algo do orgulho dos danados;
Mas enquanto, amor, no que sonhas
Do inferno a imagem não for dada
E dessas visões tão medonhas,
Em meio a gládios e peçonhas,
De pólvora e ferro animada.
Sempre de todos te escondendo,
Denunciando em tudo a desgraça
E à hora fatal estremecendo,
Não houveres sentido o horrendo
Aperto do asco que te abraça,
Não poderás, rainha e escrava,
Que apenas me amas com pavor,
Nos abismos que a noite escava,
Dizer-me, a voz trêmula e cava:
“Sou tua igual, ó meu Senhor!”

Charles Baudelaire
.Fotografado por Ludovica no leito do Rio Branco, por entre suas entranhas.

 

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